O Genial Precursor dos Blogs

Em 1967, o argentino Julio Cortázar (1914-1984) lançava o que chamaria de “livro-almanaque”, obra em dois voluminhos para colocar no bolso do casaco. O projeto – híbrido de contos, crônicas, ensaios, poemas e uma centena de imagens -, já naqueles idos, reinventando a literatura, criava uma espécie de blog, quando nem existia ainda o editor de textos e o computador processava mais números que palavras.

Dois anos depois, em dois novos volumes, saía o segundo produto do que em muitos autores seria experiência e em Cortázar era atitude. Respectivamente, A Volta Ao Dia Em 80 Mundos e Último Round, lançados só agora pela Civilização Brasileira.

Em A Volta Ao Dia …, o escritor junta suas paixões – entre o humor e a melancolia -, jazz, boxe, artes plásticas, surrealismo, tango e as viagens de Júlio Verne, um visionário. O argentino foi, na ótica com que via não só as formas literárias, mas a existência, um visionário também. Admirado pela crítica, amado pelos leitores, não deixou epígonos. As frestas que sua literatura porosa e heterogênea (talvez seu calcanhar de aquiles, sua “irregularidade”) abriu não permitiram que ninguém mais passasse sem ser esmagado pela própria fragilidade.

Último Round completa a sequência de livros-almanaque. Foram apenas dois. Mas, somados, beiram mil páginas. O segundo título refere-seà então chamada “nobre arte”, o boxe, e provavelmente porque tratasse do conjunto derradeiro daquela espécia de livro caleidoscópico, típico do autor. Destaque-se, no primeiro, um artigo sobre a hipotética criação de uma máquina (parecida com um fichário) para ler o romance O Jogo Da Amarelinha e um ensaio de fôlego sobre Paraíso, de José Lezema Lima. No segundo Livro, um ensaio clássico, “Do conto breve e seus arredores”, e um retrato irônico-genealógico dos Cortázars, famíla que daria, 40 anos atrás, o que no futuro poderia ser um blogueiro. Mas de que blog!

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